Se a comunicação social é considerada o quarto poder, por decidir o que tem atenção pública e assim supervisionar os poderes legislativo, executivo e judicial, o Facebook é hoje verdadeiramente um quinto poder, e de escala planetária. Neste momento, acima de 1 em cada 4 seres humanos interage mensalmente nesta rede social. Mas este quinto poder não está regulado nem é transparente.

Vem isto a propósito das recentes mudanças ao algoritmo do Facebook, anunciadas por Mark Zuckerberg, que geraram muitas críticas. O tema é da maior importância porque é neste algoritmo (chamado EdgeRank) que reside o poder de influenciar o mundo. Sabia que apenas uma ínfima percentagem das publicações que faz no Facebook chega aos destinatários (os seus amigos virtuais)? O número exato não é conhecido mas, no caso das publicações feitas por empresas, o alcance real não chegará aos 2% de seguidores… Ou seja: a fórmula secreta do Facebook determina quem vê as minhas publicações e que conteúdos me chegam. Assim, influencia com quem me relaciono, quiçá que tópicos eu vejo, que notícias eu leio, etc. Isto não seria assustador se houvesse uma entidade independente reguladora das redes sociais, que fiscalizasse o bem-dito algoritmo em termos de ética, igualdade e transparência. Mas não há.

Anunciou recentemente Zuckerberg que o objetivo das alterações é privilegiar mais as publicações de família e amigos, e menos as de empresas, marcas e media. Em teoria, faz sentido. Mas logo foi acusado de estar apenas a tornar mais caro o espaço no Facebook. Ou seja, as marcas terão de pagar mais para chegar aos seus públicos. E como há queixas recorrentes de falta de transparência, por parte dos maiores anunciantes (como a Unilever), dizendo que não há certeza de que o Facebook entregue os conteúdos pagos a quem é suposto, adensam-se as dúvidas sobre as reais intenções por detrás do EdgeRank. Aliás, o Facebook já chegou a admitir que alguns dos números divulgados estavam seriamente sobrestimados…

Para além dos anunciantes, o Facebook tem vindo a acumular outros inimigos e suspeitas. Alguns ex-executivos de topo manifestaram preocupações sérias sobre a possibilidade de a rede social ser hoje uma poderosa arma de desinformação, capaz de ameaçar a própria democracia! A candidata vencida Hillary Clinton já veio relacionar diretamente o Facebook com a sua derrota eleitoral. Por outro lado, os media tradicionais estão a começar a virar costas à rede social. O caso mais recente é o da Folha de S. Paulo que anunciou que deixaria de publicar lá anúncios. E não nos podemos esquecer que as autoridades europeias têm as grandes companhias da internet na mira, o que atingirá o auge quando em maio entrar em vigor o RGPD (Regulamento Geral de Proteção de Dados), cujas multas podem ser bilionárias.

Tudo resumido, e apesar do Facebook começar a mostrar sinais de menor vitalidade (menos utilizadores em alguns mercados e menos tempo de utilização), vamos ver se o poder excessivo da rede social não tem de ser travado como aconteceu à omnipotente Bell, nos anos 80 do século XX. Na altura, foi o poder judicial a impor que a companhia telefónica mais poderosa daquele tempo fosse partida em numerosas companhias Bell regionais independentes. Assim, os poderes mais uma vez se equilibraram.

 


 

Este artigo foi publicado no jornal Eco, no dia 5 de março de 2017.