Um conhecido gestor português fez parte do Conselho de Administração da holding de uma multinacional, noutro continente. A empresa, com uma cultura organizacional forte, seguia as regras politicamente corretas da “diversidade” de tudo e mais alguma coisa, e o seu Conselho de Administração era o espelho orgulhoso de tal diversidade.
Esse gestor português, contudo, era o único que possuía passaporte!
Era o único que já tinha viajado por diversos países e continentes, que tinha contactado com diferentes povos e culturas, que tinha convivido com diferentes modos de pensar, abordar e analisar os problemas, e diferentes modos de agir. Os seus pares nunca tinham saído do país (alguns, nem da província), sempre tinham frequentado escolas e ambientes similares… Em suma, pensavam todos de forma idêntica. Não havia qualquer “diversidade”, em termos práticos, para além da do citado português.
Replicaria aqui, a propósito, uma passagem do livro sapiencial “Eclesiástico”, escrito há dois mil e duzentos anos por Jesus ben Sirá …
“… Aquele que viajou conhece muitas coisas e o de grande experiência discorre sabiamente. Aquele que não tem experiência, pouca coisa sabe, mas o que viajou aumenta a sua habilidade. Vi muitas coisas nas minhas viagens e o meu saber ultrapassa as minhas palavras…” – Jesus ben Sirá, 34, 9-11
Viajar é, aos dias de hoje, mais fácil e acessível. Embora muitos jovens cheguem ao mercado de trabalho já com um bom curriculum de viajantes, pois tiveram a oportunidade de viajar com a família, escolas e colegas, as empresas podem criar condições que incentivem sustentadamente os seus colaboradores a viajar. Os progressos tecnológicos permitem que, virtualmente em qualquer local e numa situação imprevista que o justifique, se possa estabelecer contacto com o colaborador. A ausência física deixou, assim, de ser um óbice. Todos beneficiarão dessa maior experiência e desse “alargar de horizontes” que os colaboradores conseguem ao viajar. Com uma boa gestão de tempos e o necessário planeamento, mesmo os normais períodos de férias podem permitir mais do que se imagina.
Também, começam a não ser invulgares os testemunhos de pessoas (até com elevadas responsabilidades nas empresas onde trabalham), que realizaram uma pequena sabática e que investiram em semanas ou mesmo meses de viagem com a família. No regresso, tudo o que aprenderam e toda a experiência que acumularam foi enriquecedor, para os próprios e para as empresas.
“… Quando regressei de uma viagem com a minha família, com tudo o que vi, com tudo o que aprendi…, entre outras coisas, melhorei bastante o plano de negócio da empresa…” – Bernardo Correia, Country Manager da Google Portugal
“… Quando decidi que uma grande viagem seria a melhor experiência que poderia dar aos meus filhos, nunca pensei que eu próprio também iria aprender tanto…” – Tim Vieira, CEO da BraveGeneration (Europa)
As grandes vantagens de viajar, para o colaborador e para a empresa
Viajar desenvolve uma atitude de aprendizagem mais “open mind”
A exposição a diversos ambientes, culturas e pessoas, prepara o colaborador para a gestão da variedade e mudança, tornando-o mais receptivo a novas ideias e, mesmo, tornando-o um motor de inovação. Aprender a entender outras culturas, outras necessidades e outros pontos de vista, aprender a ter paciência e a saber relativizar e prioritizar, aprender a negociar… Tudo são mais-valias que, a cada viagem, fazem crescer pessoal e profissionalmente o colaborador.
Viajar reduz o nível de stress
O facto de a tecnologia permitir o contacto e a resolução de quase todos os problemas de uma forma remota, permite eliminar a habitual preocupação do “e se surge algum problema na minha ausência?!!”. Esta redução do nível de stress, estimula o desenvolvimento de uma linha de pensamento mais positivo e a capacidade de apreciar e absorver toda a envolvente. No geral, o mundo até é um lugar fantástico, povoado por pessoas incríveis e proporciona experiências inesquecíveis. No regresso, o colaborador estará rejuvenescido, com mais energia e maior poder de concentração, como se estivesse a abraçar um novo trabalho.
Viajar desenvolve a resiliência e o realismo
Para se chegar aquele local fantástico e ter aquela experiência inesquecível…, há que chegar lá. Leva-se tempo e o trajecto pode até ser penoso e desmotivador. Podem surgir incidentes, atrasos, acidentes, doenças e toda uma série de imprevistos indesejáveis. No final, até aquele tal local fantástico e aquela experiência inesquecível, podem ser uma enorme desilusão! São tudo experiências que robustecem e treinam a gestão da adversidade a quem por elas passa. São experiências que treinam a capacidade de “problem solving”. São experiências que desenvolvem a tolerância, a gestão de expectativas e o realismo do colaborador.
Viajar desenvolve a autoconfiança
Planear, preparar e concretizar uma viagem. Experimentar coisas diferentes, desde a alimentação à forma de ser e estar dos diferentes povos. Ter de comunicar em diferentes línguas e conduzir em diferentes ambientes. Resolver problemas e ultrapassar dificuldades. Aprender coisas novas. O colaborador que viaja desenvolve mais competências e incrementa o seu nível de autoconhecimento, independência e autoconfiança.
Quando a viagem é mais “longa”
Quando a viagem é mais longa, ou quando um qualquer imprevisto a tal obriga, a tecnologia torna o trabalho em modo remoto eficiente, eficaz e plenamente acessível. Basta uma fiável ligação à Internet… e uma inteligente escolha das ferramentas colaborativas que melhor se adequem ao tipo de trabalho e equipa do colaborador. Os temas de Cibersegurança e Ciberdefesa assumem, neste contexto (e nos outros também), particular relevância. Seguir as directrizes da Direção de Redes e Sistemas da empresa será sempre uma condição sine qua non.
A título meramente ilustrativo, listam-se algumas ferramentas colaborativas mais comuns que, nesta nova era digital, podem fazer a diferença em situações de trabalho para um colaborador em viagem (ou mesmo em situações em que tal se estenda para os domínios do trabalho remoto).
Dispensa apresentações. Será, provavelmente, o mais conhecido package de aplicativos para escritório online, para além da compatibilidade “nativa” com o software empresarial que a maioria das empresas utiliza. Existem versões para utilização particular, SoHo e empresarial. Inclui o Outlook, o OneDrive, o Word, o Excel, o PowerPoint, o OneNote, o SharePoint, o Microsoft Teams, o Yammer, etc.
Provavelmente, uma das melhores soluções de comunicação de voz e vídeo, via Internet. Pertence, desde maio de 2011, à Microsoft, fazendo parte de muitos dos seus packages. Existe uma versão empresarial. Possui mais de trezentos milhões de utilizadores.
O Slack é uma plataforma colaborativa de mensagens instantâneas baseada na “Cloud”. Oferece canais organizados por tópico, grupos privados e mensagens diretas. Os conteúdos (e.g., arquivos, conversas, contactos) são pesquisáveis na própria aplicação. Permite espaços de trabalho e comunidades, ao estilo das Redes Sociais.
A Dropbox, baseada na “Cloud”, é mais do que um serviço de armazenamento seguro e partilha de arquivos. É um espaço de trabalho inteligente onde equipas, ferramentas e conteúdo são geridos. Os arquivos podem ser carregados nos servidores da Dropbox a partir de qualquer dispositivo que possua ligação internet.
O Trello é uma plataforma colaborativa, baseada na “Cloud”, orientada para a gestão de projetos.
O Hightail (antigo YouSendIt), é um serviço baseado na “Cloud” que permite enviar, receber, assinar digitalmente e sincronizar arquivos de forma segura.
Em suma…
Sendo certo que nada substitui plenamente o fator presencial, a verdadade é que, mesmo estando a centenas ou milhares de quilómetros de distância, aquele colaborador em viagem apenas se encontra à distância de uma chamada de vídeo! Caso se justifique, pode receber aquela apresentação, aquele projeto, aquela proposta, ou aqueles cálculos…, exatamente como receberia se estivesse no escritório. Pode comunicar e debater com a equipa, planear, organizar e delegar tarefas da mesma maneira… E continuar a sua viagem.
Viajar não é apenas divertido, emocionante e rejuvenescedor, mas é também um fator de enriquecimento pessoal e profissional do colaborador. Um conhecido adágio popular diz-nos que as viagens impactam positivamente em, pelo menos, três ocasiões:
– No seu planeamento e preparação…, na sua concretização… e sempre que são recordadas.
… e os seus ganhos são, em última análise, partilhados por toda a empresa.
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