Nos últimos anos, a preocupação com questões ambientais tem ganhado cada vez mais peso. Tem sido uma evolução constante, que está, finalmente, a atingir a dimensão necessária face à gravidade do problema. Provavelmente, o crescimento deve-se à maior visibilidade das consequências das alterações climáticas e ao facto do público em geral estar cada vez mais informado sobre o tema.

De acordo com um estudo global da Nielsen, de 2017, já havia uma larga maioria dos participante (81%) que considerava que as empresas deviam ajudar a melhorar o ambiente. Mais recentemente, em 2019, publicaram que 73% dos consumidores globais consideravam que iriam, definitiva ou provavelmente, mudar o seu comportamento para diminuir o impacto negativo que têm no planeta.

Não defendo que devemos pensar em sustentabilidade ambiental exclusivamente numa perspetiva de negócio, mas admito que é preciso ter sempre argumentos estratégicos e, se mais alguma razão faltasse, a sustentabilidade parece ser uma área com enorme impacto no crescimento de vendas. Que cliente quer ignorar isso?

Consequentemente, existe uma maior pressão sobre empresas e organizações para criarem produtos que respondam a essas preocupações e adotem um posicionamento “planet-centric” – pensados para os utilizadores, mas priorizando o impacto que o produto terá no planeta.

“Planet-centric design aims to re-balance this arrangement by placing Mother Earth at the centre of design projects, prioritising its ecosystem and the creation of positive outcomes for the planet. Here the importance of the human changes, as they become another actor in the system, as opposed to the centre of it.”

We Create Futures

 

Qual é então o papel do UX Design nesta revolução ambiental?

Parecem existir três perspetivas:

  1. Como desenhar produtos mais sustentáveis;
  2. Como criar experiências de modo a incentivar os utilizadores, de forma individual, a adotarem comportamentos mais sustentáveis;
  3. Como usar essas mesmas técnicas para motivar hábitos de sustentabilidade a nível das organizações e empresas.

Neste artigo, irei focar-me principalmente nas duas primeiras.

 

1. Como desenhar produtos mais sustentáveis, através de User Experience?

Quando falamos de produtos físicos, é relativamente simples perceber as implicações a nível de matérias primas e condições nas quais os produtos são produzidos.

Mas, e se estivermos a falar de sites ou aplicações, que tipo de impacto é que o “mundo virtual” tem no planeta?

“Around 10% of the world’s total electricity consumption is being used by the internet…”

Inside Scandinavian Business

As boas notícias? Aparentemente, basta fazermos o nosso trabalho habitual de simplificação. Quanto mais fácil for para os utilizadores encontrarem a informação que precisam, quanto mais leve for o site ou aplicação que está a ser consultado, menos energia é utilizada e menos recursos são desperdiçados.

Isto inclui adaptar a informação de acordo com o contexto de utilização, como descrito neste artigo em relação ao site da United Airlines. Nele, é explicado que a informação apresentada, no telemóvel ou no computador, é diferente, caso o utilizador esteja a pesquisar sobre o próximo voo, em casa ou já no aeroporto. Desta forma, a homepage torna-se mais eficiente e o utilizador desperdiça menos recursos à procura da informação que precisa.

Podemos agora utilizar também esta perspetiva ecológica para defender a importância de UX junto de clientes.

 

2. Como promover hábitos de sustentabilidade ambiental de forma individual, através de User Experience?

Encontrei alguns exemplos de projetos ou ideias bastante interessantes, no decurso da minha pesquisa para este artigo, deixo-vos quatro abaixo:

 

Sustainability by Design

Problema: 65% dos habitantes do Reino Unido admitem que enchem o fervedor elétrico com mais água do que a necessária para fazer o seu chá. A energia extra que usam neste processo é suficiente para iluminar as ruas de Londres durante uma noite.

Solução: Dar feedback aos utilizadores de modo a que seja mais fácil de compreender qual é a quantidade de água necessária para fazer uma chávena de chá.

 

Talheres opcionais nas compras via Uber Eats

Problema: Como reduzir o uso de talhares descartáveis em compras “take away”.

Solução: A opção predefinida na aplicação Uber Eats é de não envio de talheres descartáveis, apenas se o utilizador de facto tiver necessidade de os pedir é que estes são enviados. Não só leva o utilizador a refletir um pouco sobre a ação que está a tomar, mas também reduz a probabilidade de enviar talheres para quem não precisa.

 

Calculadoras de Carbono para sites

Problema: Tornar percetível o impacto ambiental que o “virtual” tem no mundo real e facilitar o acesso a soluções, tornando-as mais acionáveis.

Solução: Ao colocar um URL de um site na calculadora, esta dá-nos uma estimativa do consumo energético deste e sugestões claras de medidas para reduzir esse impacto.

 

Google Wildlife Insights

Problema: É recolhida muita informação sobre o estado global da vida selvagem, através de câmaras de vigilância. Contudo, muita dessa informação está dispersa, isolada, não sendo partilhada nem analisada convenientemente.

Solução: Dar acesso, via uma plataforma online, a esta enorme fonte informação, agregando-a, catalogando-a com recurso a Inteligência Artificial e tornando-a simples para ser analisada por qualquer pessoa. Potencia, assim, a sua utilização por indivíduos ou organizações que queiram exigir ou aplicar alterações positivas para a conservação das espécies.

 

3. Como promover hábitos de sustentabilidade ambiental a nível das organizações/empresas, através de User Experience?

Recentemente, a Tangível, empresa de UX Design do grupo da SPARK2D, criou uma iniciativa interna de sustentabilidade ambiental, o que me deu a oportunidade de começar a explorar cada vez mais as possibilidades que existem de ação coletiva dentro de uma organização.

Durante 2020, iremos ter diferentes ações e definir objetivos para mudarmos internamente o nosso impacto ambiental. Todo o processo está a ser planeado com base na experiência que cada colaborador tem no contacto com estas medidas e como podemos incentivar as pessoas e a organização a adotar mudanças duradouras, sem julgamentos.

Acreditamos em medidas corporativas, nas quais os colaboradores se revejam, para que as ações vão para lá do local de trabalho. Portanto, a nossa abordagem para esta iniciativa terá as suas bases não só em metodologias de UX mas também Planet-Centric.

Para já, deixo-vos dois toolkits com frameworks que são utilizados para criar soluções planet-centric e que podem adaptar, tornando o foco do estudo a vossa organização.

 

Este artigo foi originalmente publicado no blog da Certificação UX-PM.