Com a Transformação Digital a acontecer em pleno, há mudanças significativas na forma como as empresas se relacionam e competem. Os papéis tradicionais de concorrente ou parceiro baralham-se agora e as fronteiras entre negócios e setores são cada vez mais difusas. As cadeias de valor estão a disromper-se. Em vários setores vemos antigos concorrentes que se unem para combater novas ameaças comuns ou desenvolver o seu mercado comum. Assistimos à entrada de muitas empresas em negócios que ninguém imaginava mas em que, de repente, se tornaram altamente competitivas. E claro, temos a desintermediação digital: afinal quem é que ainda recorre a agências de viagens?

De forma ainda mais profunda, as tecnologias digitais estão a produzir diversos novos modelos de negócio de plataforma, em que um interveniente captura tremendo valor por facilitar a ligação de uma grande quantidade de clientes e fornecedores. Que o diga, por exemplo a AirBnb, ou a portuguesa Uniplaces, que oferece uma miríade de opções de alojamento a estudantes universitários que vão viver para cidades diferentes.

Se o contexto competitivo à sua volta começa a não ser nada do que era, vale a pena entender em mais detalhe quais são as alterações que podem acontecer e, acima de tudo, afinar a estratégia da sua empresa para singrar na revolução digital.

1. Parceiros ou Concorrentes?

As cadeias de valor estanques já não o são necessariamente. Pensemos no negócio das agências de viagens. Os hotéis eram os seus melhores amigos porque dependiam das suas reservas e das suas preferências. Mas entretanto os hotéis passaram a vender online diretamente ao público e desintermediaram o mercado. A transformação digital deste setor determinou a quase-morte das agências de viagens.

Nos seguros passa-se algo semelhante: as fronteiras entre fornecedores e parceiros tendem a esbater-se e a concorrência fica mais complexa. Antigamente era muito claro: as companhias de seguros não endereçavam o público diretamente, dependendo da sua rede de corretores, mediadores e agentes. Mas entretanto apareceram as seguradoras diretas como a OK Teleseguros, a Logo, etc. Em que posição ficam os mediadores, que agora concorrem diretamente com os seus fornecedores? A resposta tem a ver com a dinâmica dos diferentes segmentos de clientes, mas é certo que a realidade de hoje não é estável e garantidamente evoluirá…

2. Setores Estanques?

Habituámo-nos a analisar cada indústria separadamente e a entender as suas fronteiras com outros setores. Mas já não é assim necessariamente.

A Amazon começou por ser uma livraria online e os desatentos ainda a verão assim. Mas a realidade é completamente diferente. Por um lado evoluiu para muitas mais áreas de retalho e hoje podemos lá comprar um pouco de tudo. Mas é a sua grande aposta em setores como a Cloud e os conteúdos televisivos que mais surpreende. A Amazon é de longe hoje o maior player de serviços Cloud no mundo (muito à frente da Microsoft, IBM, Google, etc). E no capítulo do vídeo, o Amazon Prime Video (ainda não disponível em Portugal) é um sério concorrente à Netflix. O mais interessante é entender que, apesar de serem áreas completamente distintas, no mundo digital há sinergias fortes. Comenta-se, por exemplo, que as preferências televisivas dos clientes da Amazon irão seriamente melhorar as já incríveis capacidades de predição das preferências de compra dos seus clientes…

Em Portugal, vimos recentemente os CTT apresentar o CTT ads, que oferece soluções de publicidade física, claro, mas também por email ou SMS. Quem diria que os CTT impulsionariam o marketing digital?

3. Colaboração entre Concorrentes?

Os arquirrivais Apple e Samsung nem sempre o são. Um dos exemplos que pode ser estranho à primeira vista é o facto de a Samsung produzir microprocessadores para alguns iPhones (como pode ver aqui). Que sentido faz os concorrentes poderem ser, ao mesmo tempo, parceiros? O tema da “coopetição” (competição + colaboração) não é novo, mas a transformação digital veio torná-lo mais frequente.

É normal os rivais entenderem que ganham se cooperarem entre si em certas áreas. Um dos motivos pode ser o de combaterem uma ameaça comum (ex: assuntos de regulação), desenvolverem o mercado onde ambos estão inseridos, ou meramente reduzirem custos a ambos.

Já pensou como pode beneficiar se encontrar áreas de colaboração com os seus rivais? Pode valer a pena um convite para um almoço diferente…

4. Plataformas?

A maior revolução digital em termos de concorrência são as plataformas digitais. Surgiram inúmeras entidades que interligam quem quer vender com quem quer comprar e assim disrompem o equilíbrio de forças nos mercados onde atuam. Alguns dos mais conhecidos exemplos são o AirBnb, que liga quem tem alojamento disponível a quem dele precisa, o eBay, que fornece um mercado de leilões para itens usados (e não só), as App Stores, que disponibilizam apps para telemóveis a quem tem aparelhos iOS ou Android, a Uber, que interliga condutores profissionais e clientes de mobilidade citadina, o Coursera, que liga universidades e estudantes à distância, e muitos, muitos outros.

Em comum possuem o facto de serem entidades que, quando ganham dimensão, adquirem muito poder nas suas cadeias de valor, especialmente devido ao efeito Winner-Takes-All, que leva a que clientes e fornecedores queiram estar na plataforma que mais interlocutores tem. Ao contrário do que víamos acontecer antigamente, em que havia normalmente um número de concorrentes relevantes, no mundo das plataformas tipicamente há uma que ganha e todas as outras perdem. Assim criam-se gigantes de poder desmesurado como os já exemplificados.

Mas não pensemos que já não há oportunidades de criar novas plataformas. Com sangue luso nas veias podemos apontar por exemplo a Farfetch, que liga estilistas de luxo com pequenas produções a clientes de bolsos cheios, ou a já mencionada Uniplaces, que oferece uma excelente plataforma para ajudar os estudantes que mudam de cidade a encontrar um alojamento.

Na realidade, muitos outros setores, à medida que avançam na sua transformação digital, tenderão a depender deste tipo de plataformas.

 

Em resumo, recomendamos que analise sem restrições o seu novo contexto competitivo e entenda que ameaças e oportunidades pode haver. Como é que a digitalização do seu negócio e do seu setor vai alterar a realidade que conhece? Se quiser falar sobre o assunto, a SPARK2D pode ajudar. Contacte-nos.

 


 

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