Nascida no Japão no início da década de 90, Chindogu é a arte de inventar um objeto engenhoso que, à primeira vista, parece a solução ideal para um problema específico, mas que na prática não tem grande utilização. As invenções são muitas vezes bem-humoradas e resolvem um problema quotidiano, mas de uma forma muito pouco convencional e muitas vezes embaraçosa. Estas características, na prática, impedem a sua utilização no dia-a-dia. As fotografias no cabeçalho deste artigo mostram alguns exemplos, como os pauzinhos para comer com uma ventoinha que arrefece a comida.

O conceito foi inventado por Kenji Kawakami, um inventor japonês, e depois foi popularizado no mundo ocidental por Dan Papia. Kawakami e Papia escreveram em 1995 o livro 101 Unuseless Japanese Inventions: The Art of Chindogu complementado em 1997 pelo livro 99 More Unuseless Japanese Inventions, livros que em conjunto venderam mais de um quarto de milhão de cópias. Kawakami e Papia fundaram também a International Chindogu Society.

Kawakami mantém presença no mundo das artes, tendo estado presente com os seus Chindogu na Foire Internationale de Marseille em 2013 e 2014, na Foire D’Automne em 2014 e numa exposição no Palais de Tokyo em 2015.

A conceção de um Chindogu é um exercício extremamente valioso para treinar a mente a identificar necessidades mal resolvidas das pessoas e deixar para uma segunda fase questões de produção, comercialização e até da viabilidade do próprio produto, no sentido em que as pessoas podem não o querer utilizar por ser demasiado embaraçoso.

Solucionar uma necessidade mal resolvida é a primeira e mais importante característica de um qualquer novo produto ou serviço.

Acresce que o exercício de conceber um Chindogu é muito fácil de implementar numa formação ou numa sequência de workshops, com a vantagem adicional de ser sempre uma experiência muito bem-humorada.

Assim, parece-nos uma ferramenta muito interessante a considerar numa estratégia de inovação e de desenvolvimento de novos produtos ou serviços (apesar das motivações de Kawakami para inventar este conceito não terem sido estas, mas antes de índole filosófica, nomeadamente anti consumismo e anti digitalização).

Os dez princípios que definem um Chindogu são:

1.Um Chindogu não existe para ser usado

É fundamental que qualquer invenção que queira ter o estatuto de Chindogu seja, do ponto de vista prático, sem utilidade. Se a invenção pode ser realmente utilizada no dia-a-dia, então é um objeto comercializável e o melhor é ir registar a sua patente.

2. Um Chindogu tem que ser real

Um Chindogu tem que existir. Não é suposto ser utilizado, mas tem que ser construído. Num exercício de formação deve ser prototipado e apresentado em utilização real aos colegas. Para não ter utilidade tem que, em primeiro lugar, existir.

3. O espírito de Anarquia é inerente a todos os Chindogu

Um Chindogu é um objeto, feito pelo homem, que foi libertado da prisão de ser útil. Representa liberdade de pensamento e de ação: a liberdade de desafiar o pensamento dominante e conservador da utilidade e a liberdade de não ser útil para nada.

4. Um Chindogu é uma ferramenta para o dia-a-dia

Os Chindogu são ferramentas para resolver problemas quotidianos. São uma forma de comunicação não-verbal compreensível por todos. Um objeto que resolva um problema demasiado específico ou técnico apenas apreciado por um conjunto pequeno de pessoas, não conta.

5. Um Chindogu não é para ser vendido

Os Chindogu não devem ser vendidos. Quem aceitar dinheiro em troca de um Chindogu, corrompe a sua pureza.

6. O humor não pode ser a única razão de um Chindogu

A criação de um Chindogu é na sua essência um exercício de solução de um problema (problem-solving activity). O humor é um subproduto desta atividade, pois muitas vezes a solução do problema não é convencional

7. Os Chindogu não são propaganda

Os Chindogu são inocentes. São objetos para resolver problemas quotidianos. Não servem para passar mensagens enviesadas que promovam pontos de vista políticos ou outros, nem devem ser criados como comentários perversos ou irónicos à humanidade.

8. Os Chindogu não são tabu

A International Chindogu Society estabeleceu standards de decência. Insinuações baratas de caracter sexual, humor ordinário e piadas cruéis ou doentias não são permitidos.

9. Os Chindogu não podem ser patenteados

Os Chindogu são ofertas do seu criador ao resto do mundo. Assim, não pode ser patenteados nem sujeitos a leis de direito de autor nem são posse de alguém.

10. Os Chindogu não têm preconceitos

Os Chindogu não favorecem raça, religião, sexo, idade ou estado social.

 

Vejamos alguns exemplos: “Back Scratcher’s T-Shirt”, “Broom and Dustpan Shoes” e também “Umbrella Tie”.

Chindogu-exemplos              

Concluindo…

A utilidade final dos Chindogu, enquanto objetos, é zero. No entanto, o processo de os criar é um exercício poderoso para o treino da identificação de necessidades mal resolvidas. Juntando o requisito de prototipagem numa formação, obtém-se sempre numa experiência rica e bem-humorada. Mas não deixa de ser uma inusitada ferramenta de inovação!