Não podemos assumir que toda a gente que lê este artigo sabe o que significa Internet of Things e Smart Cities, porque aquilo que é óbvio para uns, pode não ser para outros, pelo que vamos apresentar estes dois conceitos, embora de forma ligeira.

Internet of Things

De acordo com a wikipedia, a Internet das Coisas (Internet of Things ou IoT) é a “interligação de dispositivos físicos, edifícios, softwares, sensores, atuadores e outras coisas eletrónicas, bem como a conectividade que permite que estes objetos colecionem e troquem dados”.

Pela descrição, percebemos a natureza predominantemente tecnológica da Internet of Things. Quando o conceito apareceu, a sua aplicabilidade era maioritariamente para otimizar operações, com máquinas autónomas e relativamente inteligentes.

Smart Cities

Já uma cidade inteligente (Smart City), segundo a wikipedia, é a “integração de tecnologias de informação e comunicação (ITC) e Internet das Coisas (IoT), de forma segura, para gerir um espaço urbano. Isto inclui os sistemas de informação locais, escolas, bibliotecas, sistemas de transportes, hospitais, centrais de energia, redes de abastecimento de água, gestão de detritos, polícia, bombeiros e outros serviços da comunidade”.

Quando falamos sobre Smart Cities já estamos a discutir a aplicabilidade da tecnologia nas cidades, com o objetivo de as desenvolver económica, social e culturalmente. É fácil perceber o reforço positivo entre estes dois mercados: o desenvolvimento da Internet of Things estimula o crescimento das Smart Cities e a evolução das Smart Cities favorece o desenvolvimento da IoT.

A esfera doméstica e pessoal

Nos segmentos doméstico e pessoal, a IoT tem também sido aplicada de forma a aumentar o nosso conforto e simplificar as tarefas da nossa vida pessoal e profissional. Gradualmente, a utilização da tecnologia da Internet of Things começa a disseminar-se e deixa de ser apenas para os mais curiosos e experimentalistas, passando a estar disponível para o cidadão comum.

A massificação da tecnologia

As fronteiras entre o mundo das Smart Cities e a nossa esfera doméstica e pessoal desvanecem-se cada vez mais e a sua complementaridade começa a ser evidente. Agora discutem-se sistemas de votação eletrónica online, a disponibilização de informação em tempo real sobre os transportes públicos da nossa cidade numa aplicação no telemóvel e a circulação de veículos nas cidades começa a ser gerida com base na informação que a comunidade de veículos envia automaticamente para o centro de controlo.

A tecnologia da Internet of Things, alimentada pela sua crescente procura, acelera o seu desenvolvimento, com a massificação da oferta, a redução de preços e a disponibilização de novas funcionalidades.

A experiência do utilizador no passado

Anteriormente, quando a Internet of Things dava os seus primeiros passos, a experiência dos utilizadores (User Experience ou UX) não tinha um papel crítico no desenho dos produtos e serviços. Isto compreende-se, porque os mercados a que se destinavam (grandes empresas ou consumidores tecnologicamente sofisticados) não exigiam um grande design ou facilidade de utilização e o grande público ainda não faziam parte da equação.

Por exemplo, sistemas de gestão e localização de veículos, que já estão disponíveis no mercado há muitos anos, eram feitos a pensar em empresas de transportes, e o tamanho e o aspeto da “caixinha” que enviava os dados para o centro de controlo era um tema muito menos importante do que a sua inviolabilidade. Da mesma forma, o software no centro de controlo não tinha que ser visualmente agradável nem especialmente fácil de usar, porque era operado por utilizadores especializados, o mais importante era produzir relatórios com dados fidedignos.

Agora, estas grandes fontes de estímulo do mercado, as Smart Cities e as oportunidades na esfera residencial e pessoal, suportados pela evolução tecnológica a um ritmo ímpar, vão obrigar a repensar a forma como os produtos e serviços são desenhados.

A experiência do utilizador agora

À medida que a aplicabilidade da Internet of Things aumenta e o número de oportunidades comerciais cresce, os utilizadores finais e anónimos vão ter um peso cada vez maior no sucesso ou insucesso dos produtos e serviços IoT, e como é previsível, vão dar importância a fatores que até agora eram subvalorizados, como a estética ou facilidade de utilização.

No artigo “E se as maçãs tivessem internet?” demos um olhar para o futuro e descrevemos um cenário hipotético, em que somos levados num carro sem condutor, que fala autonomamente com a nossa casa e a prepara para termos o ambiente perfeito quando chegarmos.

Quem é que acha que este cenário é razoável, se tivermos que correr um antivírus no carro todos os dias antes de ir para o trabalho? Ou se, de vez em quando, o carro encostar na berma a meio da viagem com uma mensagem na consola a dizer “erro desconhecido”? Ou se não puder circular por uma estrada porque o seu carro não é compatível com o tipo de asfalto?

Os utilizadores compram IoT?

Na realidade, os utilizadores comuns não compram IoT, provavelmente nem sabem o que é e não precisam de saber. Os utilizadores compram “coisas” que funcionam, preferencialmente “coisas” que funcionam bem, que têm utilidade, que simplificam a sua vida, que aumentam a sua comodidade e já agora, que sejam esteticamente agradáveis.

Os utilizadores comuns dificilmente vão comprar coisas que são difíceis de usar, mesmo que seja por razões de segurança, de dificuldade de integração ou outros detalhes técnicos que não compreendem.

As empresas que lançam produtos e serviços tecnológicos têm que interiorizar a importância que a experiência do utilizador tem para o seu sucesso, e em vez de vender tecnologia, devem começar a vender conforto, comodidade, conveniência e estética, de acordo com as necessidades e os gostos dos seus clientes.

A transformação necessária

Hoje, a incorporação da experiência dos utilizadores nos produtos de base tecnológica aumenta substancialmente o seu valor intrínseco e a apetência do mercado.

Assim, na criação de produtos e serviços tecnológicos não basta uma visão de engenharia, de acordo com as opiniões e crenças das equipas técnicas. É necessária uma colaboração estreita com as equipas de design e usabilidade, de forma a capturar as necessidades e preferências do público alvo, auscultando os utilizadores, testando ideias e integrando-os no processo de criação, desde o início até ao lançamento.

Neste breve vídeo, gentilmente sugerido pelos nossos colegas da Tangível, Jakob Nielsen explica a necessidade de introduzir a experiência do utilizador no processo de criação e desenvolvimento de produtos e serviços.

Frank Sinatra

Francis Albert Sinatra, como se pode ler na wikipedia, “nascido em 1915 e falecido em 1998, era um cantor, ator e produtor americano, considerado um dos artistas mais populares e influenciadores do século XX”.

No seu vasto reportório, Frank Sinatra teve um sucesso que certamente muitos recordam chamado “my way” (“à minha maneira”). Ele não tinha, ao nosso melhor conhecimento, responsabilidades na comercialização de produtos ou serviços baseados em IoT, mas se tivesse, devia ter pensado em escrever uma outra música, chamada “their way” (“à maneira deles”, dos utilizadores) e poderia ser uma música bem mais animada, por poder aspirar a um futuro mais risonho.

Algumas das empresas de base tecnológica já estão a reconhecer o valor do design e da importância da experiência dos utilizadores na sua oferta de produtos e serviços, e a alterar a forma como trabalham. As empresas que não o fizerem, poderão ter sérias dificuldades em manter-se no mercado.

 

Podemos ajudá-lo a definir a integração da experiência do utilizador nos seus projetos de Smart Cities ou Internet of Things, contacte-nos.

 


 

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Photo by  William P. Gottlieb  from the collection at the Library of Congress.