Não há hoje conferência onde não se apregoem as maravilhas da transformação digital que “está a chegar”. Vai ser uma explosão de sistemas de inteligência artificial, revolução dos dados, tudo mobile “always-on”, claro, novos relacionamentos omnicanal baseados em linguagem natural (os famosos chatbots e agentes falantes do tipo Siri ou Echo), blockchain para registo digital indelével, carros autoconduzidos, biliões de dispositivos conetados (a famosa internet das coisas) e, claro, startups que nascem como cogumelos a explorar todo o tipo de inovações digitais. Não há dúvida que esta é a nova revolução tecnológica da nossa sociedade e que está a começar a acontecer muito rápido. E só vai acelerar.

Agora, para a maioria de nós, chegou a dura realidade:  chega de ouvir e ler sobre a transformação digital, é urgente fazê-la acontecer nas nossas organizações.

No meio de tanto discurso enfático sobre mudança, há muitas organizações desorientadas. Até têm uma ideia do que tem de ser feito, mas não conseguem que as suas iniciativas digitais avancem com a velocidade que o mercado exige. E os resultados globais tardam em aparecer. De uma forma ou de outra, o problema reside, habitualmente, na dificuldade de encontrar líderes eficazes para as iniciativas de transformação digital. No final do dia, alguém tem de fazer acontecer a mudança. E muitas vezes, os líderes hierárquicos não se revelam à altura de verdadeiramente imprimir a tal mudança – ou porque não entendem o que tem de mudar, ou porque resistem, ou porque simplesmente receiam uma mudança que, verdadeiramente, não entendem. Então quem são os novos líderes que devem ser encontrados?

Chamemos-lhes Transformadores Digitais. São indivíduos que têm caraterísticas específicas e que podem já estar nas organizações (muitas vezes sem funções de destaque) ou precisam de ser recrutados. É vulgar funcionarem melhor em pequenas equipas de pessoas complementares. Pretende-se criar, digamos, pequenas equipas de super-heróis da transformação digital.

Como identificar estes Transformadores Digitais? Com certeza terão aquelas facetas que nos habituámos a identificar como valiosas para as organizações: pessoas com inteligência emocional, comunicativas, capazes de trabalhar em equipa. Competências em gestão de projeto e gestão da mudança são bem-vindas, claro. Mas não chega. Vejamos outras características essenciais.

Pensar como Nativos Digitais

Quem tem filhos sabe bem o quanto os nativos digitais são diferentes das gerações anteriores. Os famosos millennials são mais impacientes, gostam de interagir por rápidas mensagens de texto e estão interessados em experimentar em vez de possuir. Muito do que precisamos de mudar nas nossas organizações começa por pensarmos como eles. Os Transformadores Digitais podem ser, eles próprios, nativos digitais ou pelo menos saber pensar como eles.

Faz sentido, portanto, procurar líderes nas camadas mais jovens das nossas organizações e dar-lhes desafios e capacidade para decidir e agir. Eles saberão o que os novos consumidores procuram.

Mas convém não cair no excesso contrário – o de achar que toda a gente passou a ser nativo digital. Dependendo do setor em concreto, temos muitos consumidores em processo gradual de adaptação às novas tecnologias (migrantes digitais) ou mesmo camadas da população mais infoexcluídas.

Decisões Baseadas Em Dados

Não é fácil mudar o que não se mede. Procure pessoas com fortes capacidades analíticas e que perguntem muitas vezes “porquê?”.  A gestão intuitiva e pouco rigorosa não tira partido da revolução dos dados que temos agora à nossa disposição. Quantas vezes ouvimos respostas começadas por “acho que…”?

Os Transformadores Digitais terão uma atitude sistemática de decidir com base em dados concretos. Se não se está a medir o número de clientes, o tipo de reclamações, a velocidade média, então não podemos saber o que alterar. E mesmo que seja uma mudança eficaz, não saberemos mostrar o quanto evoluímos: é necessário medir o antes e o depois para tornar evidente a evolução.

O domínio de ferramentas analíticas torna-se, assim, importante para poder explorar dados, perceber padrões ou analisar cenários futuros. Nem todos precisam de ser data scientists, mas se os seus Transformadores Digitais não tiverem, pelo menos, alguma desenvoltura em ferramentas de dados, podem não ter autonomia suficiente para a função. Se não tem estas competências de data analysis convém supri-las rapidamente, seja por formação ou por contratação.

Falhar rápido

Este é um tema muito importante, a capacidade para assumir riscos, e, portanto, arriscar falhar. Fail fast and cheap diz o ideário de Silicon Valley. Trata-se de ter uma atitude sistemática perante iniciativas digitais que se carateriza por experimentar evoluções em ambiente real, com muita frequência.

Os grandes players digitais estão permanentemente a testar novas abordagens e muitas falham. Mas as que funcionam acontecem muito mais rapidamente. Veja o caso do site de viagens Expedia aqui.

As organizações precisam de permitir falhar, é certo, mas os Transformadores Digitais precisam de ser pessoas que arriscam experimentar ideias e não se desanimam com insucessos (e as inerentes críticas à volta), procurando aprender com eles e rapidamente experimentar novas alternativas.

Utilizadores, Utilizadores, Utilizadores

Se há um tema essencial no desenho de novos produtos e serviços digitais é a importância da experiência do utilizador (User eXperience em inglês, ou UX). É crítico conhecer a fundo os utilizadores (ou consumidores, ou utentes, etc) observando-os, empatizando com eles. No processo de desenho do novo produto/serviço tem de se testar de forma repetida a interação com utilizadores-tipo, através, por exemplo, de protótipos. E cada versão do produto final tem de ser rigorosamente testada com utilizadores.

Os Transformadores Digitais são indivíduos que não gostam de “achismos”. Eles não aceitam que se desenhe algo porque simplesmente alguém “acha” que aquele ecrã é melhor assim, ou porque “se fosse eu gostava mais desta forma”. Eles recorrem sistematicamente à infinita sabedoria dos utilizadores, envolvendo-os no processo de desenho: testando, entrevistando, observando.

Multidisciplinaridade

Esta palavra longa e difícil significa que deve privilegiar pessoas com conhecimentos em múltiplas áreas ao invés de grandes especialistas num único tema. Prefira tecnólogos com experiência variada em diversos contextos digitais em vez daquele superespecialista em desenvolvimento de websites em Joomla que não percebe de redes. Olhe com bons olhos para aquele psicólogo com um percurso pouco convencional que passou por cargos onde a tecnologia era relevante. Estas perspetivas diferentes podem trazer o que lhe está a faltar.

noutro artigo falámos das vantagens da polinização cruzada de competências e experiências. A revolução digital atual destrói os silos setoriais e funcionais. Para além de uma equipa de Transformadores Digitais com competências complementares, as organizações precisam de pessoas com conhecimentos díspares e abrangentes.

Em geral, a transformação digital das organizações precisa de combinar fortes conhecimentos de gestão, marketing e tecnologia. Mas, dependendo dos casos concretos, não é raro vermos uma forte adequação de pessoas que vêm das áreas comportamentais ou da matemática, por exemplo.

Criatividade

Pode parecer um lugar comum, mas as organizações precisam mesmo de pensar diferente e ser criativas. É o famoso “pensar fora da caixa”. É preciso apostar em pessoas que tragam ideias diferentes e questionem a forma como sempre se fez. É crítico saber ouvir essas ideias e não as crucificar se parecerem estranhas. Os Transformadores Digitais mais criativos propõem muitas abordagens ou ideias que acabam por não fazer sentido. Mas algumas delas vão acabar por ser disruptivas e brilhantes. É dessas que estamos à procura.

Mas é preciso também trabalhar no estímulo da criatividade na organização. Muitas organizações têm apostado no Design Thinking enquanto abordagem sistemática aos problemas que privilegia a forma como os designers encaram os desafios, ao invés das abordagens mais dedutivas, típicas dos engenheiros.

Em resumo…

É muito evidente a necessidade da transformação digital das organizações. Já não faz falta alertar para esta nova revolução tecnológica, mas sim para a forma como cada organização a deve levar a cabo. E o mais importante é ter as competências essenciais para esta mudança profunda nos hábitos de trabalhar e interagir com clientes. As organizações precisam de encontrar os seus Transformadores Digitais e apostar neles.

Se na sua organização não há suficientes Transformadores Digitais ou precisa de os treinar, fale connosco. A nossa equipa está habituada a usar super-poderes.

 


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