A revolução dos wearables, ou dispositivos vestíveis, tem um grande potencial para contribuir para a prevenção de problemas de saúde.
Os wearables estão diretamente ligados ao conceito de Internet of Things – uma rede de objetos ligados entre si que utilizamos no dia a dia e pela qual partilhamos informação, de forma segura.
Para entender os wearables, é necessário recordar como os dispositivos computacionais evoluíram desde o final de 1970, com a introdução de máquinas pessoais ou personal computers – os PCs.
Se, a partir dos anos 80, conquistaram os lares, começaram depois a evoluir para dispositivos de diversos tamanhos e formatos alimentados por baterias que permitiram uma mobilidade inédita. Toda esta evolução viabilizou uma mudança radical na relação do utilizador com a computação, provocando o nascimento de um ecossistema de aplicações móveis com acesso “always on” à internet, bem como a miniaturização de aparelhos usados e anexados ao corpo e não nos bolsos.
Os wearables, para além de estarem sempre presentes, também recolhem, por meio de sensores, informações do próprio corpo e enviam-nas para o smartphone, ou outros dispositivos, para conhecimento do utilizador. No entanto, esta tecnologia, associada à partilha de informação com os médicos para prevenção e monitorização de sintomas ocultos, seria um método de monitorização não invasivo e ubíquo – conforme explorámos no artigo “Saúde Digital: Oferecer Experiências Memoráveis”.
É necessário pensar nos wearables não só como um acessório tecnológico mas também como um acessório informacional que pode auxiliar as pessoas e os seus médicos a prevenir doenças e a alterar comportamentos, pois aprofunda o conhecimento do indivíduo sobre si mesmo e estimula-o a assumir o cuidado da sua saúde.
Prevenir é o melhor remédio
É de conhecimento geral que é apenas quando apresentamos sintomas anormais ou observamos alterações em resultados de exames médicos que nos preocupamos e refletimos sobre hábitos alimentares, prática de exercício físico ou qualquer outra medida preventiva que evite o que provocou esse sintoma anormal. A prática de utilizar wearables para a prevenção e monitorização da nossa saúde e partilhá-la com o nosso médico pode reduzir gastos com a saúde: os médicos poderão monitorizar os dados e convocar para uma consulta quando identificarem alguma anormalidade no nosso corpo.
Também existe a preocupação com a população de maior idade, em que é crítica a sua monitorização e é normalmente difícil que se desloque a hospitais e centros de saúde. As aplicações de saúde wireless podem ajudar os utentes a serem monitorizados constantemente e reduzir a necessidade de se deslocarem tão frequentemente.
Todas estas ferramentas de transmissão de informação estão a ser implementadas e testadas no mercado, mas às vezes sem sucesso. Muitas vezes as pessoas não querem usar algo que mostre que estão doentes ou que possa lembrar-lhes disso. A principal razão pela qual as pessoas usam wearables para controlo de saúde está relacionada com fitness: algo que meça a tensão, batimento cardíaco, temperatura da pele ou os passos. Mas a verdade é que todos estes dados são importantes na monitorização da saúde de forma mais abrangente.
Alguns exemplos
Hipertensão arterial: Segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) a hipertensão arterial contribui para cerca de metade de todas as mortes por acidente cardiovascular (AVC) e problemas cardíacos no mundo. Em Portugal, a hipertensão arterial atinge 40% da população.
Já existem wearables como o QardioArm, da Apple, por exemplo, que mede a tensão, envia os dados para o smartphone para monitorização e controlo. Este equipamento, torna-se mais prático do que ir regularmente a um posto de saúde para monitorizar a tensão.
Diabetes: O atual método para monitorizar a glicose no sangue (com uma picada no dedo) não é muito prático e torna-se bastante doloroso. Já existem estudos para medir alguns fatores no sangue, incluíndo o nível do açúcar, com base nos impulsos elétricos do corpo, recebidos por um dispositivo wearable que se assemelha a uma tatuagem que depois os converte em informação útil para monitorizar a diabetes. Existe ainda um protótipo feito pela Google, que mais tarde fez parceria com a Norvartis, sobre lentes de contacto que pretendiam medir o nível da glicose através de lágrimas.
Ortóteses e Próteses: A Kinematrix, empresa do UPTEC (Parque de Ciência e Tecnologia da Universidade do Porto), criou um dispositivo wearable, ORTHOMONiTOR, com o objetivo de reduzir os ciclos de tratamento. Isto é, o sistema mostra como o aparelho ortopédico está a ser usado e permite aos médicos criar novas opções de reabilitação.
Escoliose e outros problemas de coluna: a Valedo é um dispositivo wearable, criado por médicos, com sensores que transferem a imagem do corpo para um modelo 3D e captam os movimentos em tempo real. A Valedo, para além de ensinar alguns exercícios que treinam os músculos lombares para corrigir a coluna e amenizar dores, monitoriza os movimentos e partilha os resultados.
Recém-nascidos: The Smart Sock 2 é uma meia que mede a pulsação do bebé e calcula a frequência cardíaca e os níveis de oxigénio enquanto o bebé dorme. Esta informação é comunicada para o smartphone dos pais através de uma aplicação. As notificações são feitas através de sons e luzes e os dados podem ser visualizados em tempo real.
Concluindo…
Já existem muitos tipos de wearables ligados à saúde, que estão em constante evolução. Segundo um estudo da IDC (International Data Corporation), os wearables estão a mudar o mercado, mesmo os equipamentos mais básicos que, em vez de estarem sempre dependentes de um smartphone, podem passar a ser independentes e a comunicar com outros dispositivos diretamente, criando uma experiência única e interligada, que se possa “vestir”, ter acesso aos dados, ler e partilhar os resultados em tempo real.
A tecnologia e as aplicações dos wearables estão claramente a evoluir. Não só para facilitar a nossa vida em termos de organização, mobilidade ou gestão de informação, mas também para prevenir problemas de saúde. Obviamente, nem todas as tecnologias evoluem ao mesmo ritmo. No caso da saúde, é bastante importante que haja um processo de aprendizagem, em todas as tentativas, para garantir a qualidade, veracidade e segurança dos dados recolhidos.
Photo by Maurizio Pesce on Flickr.
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