A utilização de dispositivos móveis em larga escala permite que as organizações usem estes novos canais de comunicação para dar experiências mais personalizadas e mais imersivas aos seus utilizadores, utilizando vários recursos e técnicas de mobile marketing.

96% dos portugueses têm um dispositivo móvel, segundo o estudo “Mobile Shopping, Banking and Payment Survey” realizado pela Nielsen em outubro de 2016, e Portugal é um dos três países da União Europeia com maior penetração destes dispositivos.

Para além de 70% já comprar online, mais de metade utilizam dispositivos móveis para procurar informação sobre um produto ou comparar preços quando estão na loja física. Mais de 40% usa mobile nas lojas para ter descontos, 30% para tornar a visita à loja mais eficaz e 19% já usa aplicações de shopping assistant.

Segundo a Marktest, em 2015 já metade dos acessos à internet era através de dispositivos mobile, sendo que a penetração é muito maior nos escalões de idades mais baixos.

Ou seja, (quase) todos temos pelo menos um dispositivo móvel, estamos muitas vezes ligados à internet e recorremos a esses dispositivos para nos ajudar nas atividades do dia-a-dia ou para nos entreter, estejamos a fazer compras, a passear, a ver um concerto ou um jogo de futebol, a viajar, num evento, a almoçar, jantar ou visitar um museu.

Como podem, então, as organizações interagir connosco quando estamos nos seus espaços de uma forma produtiva e diferenciadora?

Beacons – o que são e como funcionam

Os beacons são pequenos dispositivos de baixo custo e de baixa potência equipados com Bluetooth Low Energy ou BLE (também chamado Bluetooth 4.0 ou Bluetooth Smart) que transmitem sinais para dispositivos próximos, como smartphones e tablets, e podem ser usados para enviar mensagens com base na localização e contexto dos utilizadores. São transmissores unidirecionais, ou seja, apenas transmitem sinais, não os recebem.

Permitem identificar a localização de smartphones em locais onde o GPS e o Wi-Fi nem sempre são eficazes e enviam alertas e dados para aplicações móveis. Para além disso, têm um alcance menor e permitem interagir com os utilizadores em locais muito específicos, como um corredor de uma loja ou mesmo um objeto.

Resumindo, os beacons permitem que certas aplicações mobile saibam qual a localização dos utilizadores. Tornam possível identificá-los, detetar a sua proximidade a objetos, desencadear ações na app (como push notifications), etc.

No fundo, os beacons permitem comunicar com os utilizadores com base no seu contexto.

No entanto, existem algumas limitações. Embora a tecnologia Bluetooth BLE seja uma norma, cada dispositivo lida com o Bluetooth de uma forma diferente, seja através de permissões ou até mesmo de receção de sinal. Para além disso, o ambiente em que os beacons são instalados deve ser cuidadosamente estudado, de modo a proporcionar a melhor experiência aos utilizadores.

Que aplicações práticas já existem de beacons?

Os beacons podem ser usados, por exemplo, para:

  • Enviar ofertas e mensagens personalizadas aos utilizadores;
  • Melhorar a experiência dos utilizadores gerando maior interatividade no local;
  • Ajudar os utilizadores a “navegar” num espaço;
  • Localizar e acompanhar os movimentos de visitantes e produtos;
  • Proteger locais e ativos da organização.

Por exemplo, uma empresa espanhola de soluções tecnológicas para turismo criou uma solução de sinalização com base em beacons que implementou em 2015 na região vitivinícola de Ribera del Duero, localizada na região de Castela e Leão.

beacons sismotour - mobile marketing

A empresa colocou beacons em placas informativas ao longo da região que interagem com uma aplicação. Essa aplicação, por sua vez, dá aos visitantes informação mais detalhada nos seus smartphones sobre a sua localização, o que estão a visitar ou os objetos que vêm, o mapa geral da região, o que podem visitar por perto e por que caminhos devem ir, etc. No fundo, a empresa transformou a sinalização “passiva” em pequenos postos de turismo virtuais.

Para além disso, usando os beacons e disponibilizando a app offline, os utilizadores não precisam de ter acesso à internet, seja por WiFi ou dados móveis, para interagir com placas informativas, o que é particularmente importante em zonas com fraca cobertura de internet ou para turistas que estão fora do seu país e não têm facilidade de acesso a internet móvel.

Um outro caso de estudo é do Danske Bank, da Dinamarca, que testou a utilização de beacons para fazer pagamentos mobile, em integração com a sua aplicação, que já era usada por 3 milhões de pessoas.

beacons danske bank - mobile marketing

O banco colocou beacons nas caixas de pagamento de centenas de lojas por todo o país. Os utilizadores passavam os seus smartphones pelos beacons e recebiam uma notificação, através da aplicação, solicitando que aprovassem a compra, deslizando o dedo no ecrã para a direita (swipe).

Outros bancos já estão a usar beacons também, mas apenas para finalidades mais “leves”, como enviar notificações personalizadas aos clientes quando entram numa agência. Mas o uso de beacons para melhorar a experiência de pagamento móvel é um grande passo dado pelo Danske Bank.

Outro exemplo interessante é o do Australian Museum, que transformou as visitas ao seu espaço num jogo do tipo “caça ao tesouro”, criando a aplicação “Trailblazer” para o efeito.

beacons australian museum - mobile

A aplicação incentiva os utilizadores a passear pelo museu e recolher alguns itens (marcados por um beacon). Os beacons também são usadas para dar aos visitantes um “radar”, que lhes diz o quanto estão perto de objetos com particular interesse na exposição.

Em Portugal, o Futebol Clube do Porto implementou vários beacons no estádio do Dragão e nas lojas, para surpreender e melhor a experiência dos seus adeptos.

Através da aplicação do clube, os adeptos podem receber notificações personalizadas sobre descontos em merchandising nas lojas e em alimentação no estádio, como por exemplo, um desconto quando o seu jogador favorito marca um golo, ou uma recompensa por chegar mais cedo. Para além disso, a app permite ter o cartão de sócio e os bilhetes para os jogos digitalizados e acessíveis no smartphone e smartwatch, que são validados no local por beacons e outros mecanismos de leitura de códigos, reduzindo as filas de entrada no estádio.

beacons FCP app mobile

 

Realidade aumentada

Realidade Aumentada (AR na sua sigla inglesa) é uma tecnologia que enriquece o mundo real com informações e media digitais, como modelos 3D e vídeos, sobrepondo-os em tempo real na visão da câmara de um smartphone, tablet, PC ou outros dispositivos “inteligentes”, tais como óculos ou lentes.

Diferente da realidade virtual, que ocorre num ambiente puramente virtual, a realidade aumentada recolhe informação do mundo à nossa volta e complementa-a com componentes digitais.

Recolhe essa informação através de GPS ou WiFi, para obter uma localização ou posição relativa a outros objetos, através de reconhecimentos de padrões (um quadro, um objeto, uma cor, etc) ou, de forma mais direta, através de marcadores incorporados nos objetos.

Exemplos de aplicações (para além do Pokémon Go)

Uma das aplicações mais conhecidas é a do Catálogo IKEA, que nos permite ver como ficariam os móveis na nossa casa, sobrepondo imagens 3D dos móveis no espaço da nossa casa usando a câmara do dispositivo mobile. Pode ver o vídeo aqui.

AR ikea mobile

Outro exemplo é a aplicação “Star Walk”, que nos mostra estrelas, constelações, satélites, planetas, etc, quando apontamos para o céu noturno. Pode ver a aplicação a funcionar neste vídeo, ou então instalá-la no seu smartphone Android ou iOS (existe uma versão paga e outra gratuita, com menos funcionalidades).

AR star walk app mobile

Mais conhecido ainda é o caso do Snapchat e dos seus filtros, que funcionam reconhecendo o padrão das nossas caras e projetando nelas “informação digital” com efeitos muito engraçados. Depois do Snapchat desenvolver esta funcionalidade, surgiram várias aplicações que o fazem também, incluindo o Facebook Messenger. Pode ver este vídeo da Mashable que tem uma explicação interessante e fácil de compreender sobre realidade aumentada.

Concluindo

A fronteira entre o mundo digital e o físico é cada vez mais ténue, mas cada um tem a capacidade de melhorar o outro, ou torna-lo mais interessante. Combinando os dois mundos, usando por exemplo beacons ou realidade aumentada, podemos ter experiências mais personalizadas e imersivas, aumentar o nosso conhecimento, divertir-nos ou tomar decisões mais acertadas.

Através dos dispositivos mobile as organizações podem criar novas experiências que transcendem as componentes físicas dos seus espaços e tornar essas experiências mais memoráveis, diferenciar-se e aumentar as suas visitas ou vendas.

 


 

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